Exorcizando a Solidão

Aqui estou. Seis da manhã e eu a ouvir um velho Heavy Metal, com traços de romantismo decadente, em que se ama o mau e em que se perdoa o muito pior. Assumimos o nosso lado negro. E o demónio dentro de nós, continua a governar o Inferno de loucura que é o nosso ser, a nossa alma.
Devia estar a dormir. Que se lixe o sono. Daqui a pouco já me deito. Se não dormir durante uns dias, sucumbirei ao cansaço.
Deveria estar a dormir. Mas estou de volta de um velho Heavy Metal de muita qualidade. Estou de volta dos meus pensamentos. Estou de volta das minhas emoções e dos meus devaneios.
Penso. Aquele pensamento das altas horas solitárias em que nos propomos a exorcizar essa solidão auto-infligida. Exorcizamos os nossos pensamentos com qualquer coisa. Eu exorcizo estas horas assim, a escrever aqui, fumando uns cigarros e ouvindo, neste preciso momento, Doro Pesch a cantar "Heaven I See".
Sei que a culpa de estar aqui, neste momento, em vez de nos braços de alguém, a ter o meu demónio interior apaziguado na boca de um amante, é apenas minha. "Mea Culpa"! Prefiro "disposable men", ou, por outras palavras, homens descartáveis. Aqueles com quem se fode uma vez e que nunca mais se vêem. (Aludindo à série "O Sexo E A Cidade", em que a minha amiga Cláudia é a Carrie Bradshaw e eu so a Samantha Jones, por este género de pensamentos e de acções. Mas sinto-me uma espécie de uma mistura entre as duas, escrevo e sou a puta das babes).
É nestas horas em que sinto a falta de algo mais. Mas continuo a preferir não envolver sentimento com sexo. É perigoso demais. E eu sou demasiado leigo (com 26 anos de idade, nunca tive uma relação séria). Envolver sentimentos é um sério risco: obsessão é um dos riscos maiores. Já no sexo por sexo, pelo prazer e por ter vontade é perigoso. Dás uma e tens gajo qualquer a ligar-te constantemente, a usar subterfúgios para te ver.
Enfim...
Mas estas curiosidades e estas vontades ocasionais são apenas isso mesmo: vontades ocasionais e curiosidades; e, hoje em dia, não duram tempo suficiente para causar estragos.

Uma das mnihas maiores curiosidades, curiosamente, é saber por onde andaria por estas horas. Talvez na praia, a ouvir música. Talvez no Cabo da Roca. Talvez numa cama já tão familiar, em braços e numa boca, também eles estranhamente familiares. Na noite, talvez encostado a um canto de uma qualquer discoteca,  visse dançar, tentando fazer-me sair e dançar com ele, sem medos, nem vergonhas. São infinitas as possibilidades. Possibilidades essas que prefiro milhões de vezes partilhar com amigos verdadeiros (são cada vez menos, os que se podem considerar como tal), do que com um falso amor.

Em tempos, quando eu queria amar e apaixonar-me, disseram-me que tudo acontece no seu tempo e do jeito que tem que acontecer. Assim foi. Foi mau. Muito mau, porque iludi-me, onde não existiam esperanças para tal. Iludi-me onde nunca houveram mentiras. Onde tudo era simples, preto no branco, sexo por sexo, acreditei que podia ter mais e recusei-me a esse simples prazer. Hoje, sou eu quem está do lado oposto, quem não quer mais do que um momento (não por ter a namorada na cama a dormir e por ela "não saber fazer bicos"), mas que é apanhado por "pragas" que não descolam e que se apaixonam numa foda. Entendo agora como deves ter-te sentido e entendo a tua atitude. 

"Um dia" disse-me uma amiga, maravilhada com a nossa conversa e com esta exposição de pensamento "vais apaixonar-te de tal maneira, que nem vais saber para que lado hás-de virar-te".

"Já pensaste que alguém pode gostar de ti e sofrer com as coisas que dizes, sem se aproximar por causa disso?" 
"Já estive desse lado, mas eu não dou esperanças em relação a nada" - numa conersa do género com alguém de quem nem me recorda o nome.

"Daqui a uns anos, conversamos" - disseram-me já duas amigas, esperançosas da mudança de pensamento / atitude.

E há outras frases que já mencionei, noutras entradas. 
E há muita coisa que já foi dita. Mas não me recordo de tudo, assim como há muitas coisas das quais nem vale a pena falar, quanto mais escrever.
Prefiro caminhar os jardins sozinho e ter tempo e alma suficientes para abraçar ou beijar uma árvore. Agarrar, sem apertar, aqueles ramos mais baixos e sentir as folhas deslizarem por entre os meus dedos, à medida que vou caminhando, cm se entregasse ou retirasse energia disso. Como um terço, cujas contas deslizam por entre os dedos de um crente.
Prefiro abraçar e afagar um animal, vadio ou de alguém.
Prefiro uma praia à noite com amigos. Numa tarde de Inverno, sozinho, caminho na areia, sentindo o vento gélido bater-me na cara, enquanto, à beira-mar, converso com este (o mar), rio da sua tentativa frustrada de me molhar. Entendomo-nos bem. Ele conhece-me melhor do que ninguém.

Estranhamente, sem estar apaixonado, ouço muita música do género. Mesmo que seja uma balada de Heavy Metal. Reafirmo estes meus pensamentos, ainda que não haja uma possibilidade real de estar seriamente com alguém. Talvez sinta necessidade, não só de exorcizar a solidão destas horas de madrugada, mas de reafirmar, perante mim mesmo, aquilo que tenho vindo a defender como o estilo de vida amorosa ideal para mim: inexistente, com muito sexo! Sexo entre estranhos, que nunca mais se verão (ou assim crêem ambas as partes, até se surpreenderem um ao outro no mesmo espaço). Sem espaço para ilusões, sem tempo para que se criem sentimentos, visto que é foder e bazar. Nem se espera pelo fim da noite.

Assim exorcizo a minha solidão, enquanto a manhã desponta lentamente.

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