"rasga esses versos que eu te fiz, amor..."


Os Meus VersosRasga esses versos que eu te fiz, amor! 
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento, 
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento, 
Que a tempestade os leve aonde for! 

Rasga-os na mente, se os souberes de cor, 
Que volte ao nada o nada de um momento! 
Julguei-me grande pelo sentimento, 
E pelo orgulho ainda sou maior!... 

Tanto verso já disse o que eu sonhei! 
Tantos penaram já o que eu penei! 
Asas que passam, todo o mundo as sente... 

Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida! 
Como se um grande amor cá nesta vida 
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!... 
 Acordei hoje com estas palavras na mente. Acordei com esta interpretação deste poema a tocar dentro da minha alma. E porque será?
Talvez seja da tua passagem por mim numa destas noites (e um novo carro e uma nova matrícula para decorar. Talvez seja paranóia. Eu prefiro pensar nisso como auto-preservação). Talvez seja de ter pensado em ti, como um chamamento, nos dias anteriores a esse teu reaparecimento. E os meus próprios versos... em quantos tenho aquelas iniciais que julgava serem as tuas? Quantos e quantos foram escritos por ti? Por ti, nada senão uma grande mentira, um grande vazio e um buraco enorme na minha alma?
Acordei com este poema / fado na minha alma hoje de manhã. Talvez por ti. Talvez pelas pancadas impossíveis do poeta (eu). E porque escolho, como objecto das minhas pancadas pessoas que nunca me ligarão nenhuma? Por isso mesmo: não há riscos de iludir-me, enganar-me a mim próprio outra vez e de sair magoado de certas situações. Não existem assim os riscos que o amor comporta.

Porque é que penso tanto nisto? Tenho a tendência de dizê-lo em voz alta, de escrevê-lo nos meus diários mais íntimos, de escrevê-lo aqui ou em qualquer blog. Uso-o como uma desculpa esfarrapada para justificar o meu desejo de estar e permanecer sozinho.
Amar não é bom! Se amar fosse bom, não existiriam tantas pessoas a quererem-se sozinhas. As que querem amar, nunca deverão ter amado e sofrido a sério.
O meu espaço e o meu cigarro. E os meus filhos, que são os meus versos e os meus animais. Horas negras e vazias, a escrever por e para quem não merece. Mas agradeço por isso: tenhoalguns dos mais sofridos, sangrados e belos versos escritos por ele. E por ele aprendi que o amor é o maior dos males. Por ele cresci em sentimento. Estou tão grande, que me elevo em orgulho em todas as horas da vida. Mesmo nas horas de medo e de vergonha, encontro algum orgulho por que valha a pena reafirmar tudo quanto tenho vindo a dizer!

"Vais morrer sozinho", têm-me dito. E eu não me preocupo. Quando morrer, não sentirei mais. Quando morrer, não terei que preocupar-me mais com ninguém, nem com os meus versos, nem com o teu amor (ou com a falta dele).
E é uma verdade que aprecio muito mais as minhas noites sozinho, com a minha música, com os carros que passam na estrada, com a lua lá em cima ou com a chuva que cai. Escrevo os meus versos (será que valem alguma coisa?) e são mais belos quando sofro. E se quando morremos o nosso legado é apenas o nosso nome, porque hei-de preocupar-me com o amor, quando o meu legado serão os meus filhos? Os meus versos ou o pouco que hoje em dia vou desenhando? Esses que são os meus filhos de luz, dos espaços que vou habitando, do fumo dos cigarros ou das ganzas que me envolve!

Hoje acordei assim: penso em ti, com esses versos na minha alma. Versos esses que alguém canta. Penso nos meus próprios versos, aqueles que te fiz. E é qualquer coisinha assim, ligeiramente dolorosa que me bate na alma, como a chuva que cai lá fora bate nos vidros das janelas.
E é pedir-te o esquecimento, do esquecimento que não sei dar-te.

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