Coisas que já deveriam ter partido...

Há coisas que já deveriam ter sido largadas. Velhas histórias que já deveriam ter sido ultrapassadas. Velhas gentes da nossa vida que, ainda que não estejam mortas fisicamente, no nosso espírito deveriam estar. Mas as velhas histórias, mesmo as que apenas sonhámos, que nos marcaram verdadeiramente ficam como as marcas da nossa auto-mutilação de juventude, de tristeza, melancolia, medo... horas em que considerámos de coragem, mas que foram da maior fraqueza possível.
Hoje poderia escrever de tudo. Poderia escrever de ti. Sobre ti. Por ti. Denunciar-te e dizer ao mundo, aos meus leitores quem és tu. Quem é o alvo dos meus afectos. Mas digo apenas que chove lá fora. Talvez os anjos ou mesmo Deus, na sua infinita sabedoria e altivez, chorem o mesmo que choro interiormente. Poderia dizer que morreria. Mas isso não é novidade. Namoro a Morte há tanto tempo...
Hoje, sinto que poderia ter feito tanta coisa diferente e talvez nunca nos afectasse tanto esta presença ambígua. Hoje sinto que poderia ter-te dado o melhor de todos os mundos e, de ti, poderia ter retirado o mesmo. Hoje, tenho "apenas" um número enorme de poemas escritos para ti, com os quais planeio já o meu segundo livro (e porque não começar com estes poemas, para o primeiro livro?). Hoje, continuo "apenas" a escrever-te. A escrever p'ra ti. E serás eterno, mesmo quando fores apenas mais uma campa no cemitério, quando eu for cinzas dispersas no ar, talvez um pouco da trovoada que rasga os céus ou a chuva que é, talvez, as lágrimas dos anjos e do próprio Deus.
Há coisas que já deveriam ter partido.
Há coisas que já deveriam ser apenas um memória tão distante...

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