Não sei o que há a dizer
Não sei bem o que há ainda a dizer. Sinto que tudo o que poderia ser dito, já foi dito há imenso tempo. Como se todos os versos das madrugadas envoltas em fumo de cigarros já tivessem sido escritos; sinto que não resta uma só sombra de alma que não tenha sido escrutinada em análise a versos, a prosa confessional; sinto que não há qualquer estado de espírito que não tenha sido violado por olhares alheios; sinto como se não existisse qualquer palavra para descrever um sentimento que teima em não cessar. E são estas as horas de tédio, de mórbido desejo, em que anseio por um pouco de paz (uma dádiva da morte? ), que me trazem o anseio de caminhar junto ao mar, de ouvi-lo a cantar, lá de cima da falésia.
A noite irá alta. Sabe Deus quantas horas já não orei, rosto enfrentando o mar frio e zangado, enquanto mantínhamos um diálogo incompreensível para os demais.
O fumo dos meus cigarros preenche os espaços, sem preocupação, sem remorsos. E a minha alma banha-se no sangue das vítimas inocentes, que dentro de si arrasta.
Não sei bem o que há ainda a dizer. Não sei bem o que tanto me preocupa, não sei o que tanto consome a minha alma, em horas de ansiedade, de uma angústia que não pára, que não cala a sua voz dentro de mim.
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