"A Sentir-me Triste"

 Tinha colocado um estado no Facebook. "A sentir-se triste", dizia. E apaguei. Não sou muito fã de quem se queixa de que outros comentam as suas vidas, mas não deixam de publicar tudo o que fazem ou conquistam nas redes sociais. Prefiro, ainda que continue a ser um espaço público, vir a este meu cantinho e deixar sair os meus lamentos. De todos quanto conheço, sei que a probabilidade de abrirem este blog e ler o que quer que seja, é reduzida.

Talvez pelas mudanças de tempo que se têm feito sentir, tenho-me ressentido mentalmente. Com isso, tenho sentido uma espécie de ressentimento para com ele. Ele, que nada me é, nem me foi, senão alguém que satisfaço e com quem me satisfaço de tempos a tempos. Não existe sequer uma amizade, nem um cumprimento na rua, onde cumprimos o papel daquilo que somos: estranhos. Talvez por perceber que está, agora, mais perto e por vê-lo mais vezes, acabando por fazer todos os possíveis para ter um vislumbre de tal criatura. Tenho-me ressentido pelas conversas que não temos, pelo amor que não existe, pelo futuro que nunca será construído. Não entre nós.

A minha mente tem vagueado pelos vales mais escuros e os pensamentos têm sido negros. Há desejos para todos os gostos e feitios. Há pensamentos que não me atrevo a proferir, especialmente desde a ruína do meu mundo há dois anos atrás. E, enquanto antes, vaguearia pelas ruas, escolheria ficar por lá, entre grupos de rapazes, a beber e a fumar, tenho escolhido o isolamento de casa. E, com isto, escolhi colocar um estado no Facebook, "a sentir-me triste", que eliminei logo depois. Sabia que este estado não iria alterar nada, mas atrairia a atenção de curiosos, que viriam às mensagens perguntar o que é que se passa e o idiota do costume iria fazer um qualquer comentário de merda, que me veria forçado a eliminar.

São três e vinte da manhã. Escrevo este texto, não com o intuito de ter um leitor para este texto, mas para aliviar um pouco a carga que vai dentro do meu peito. Para aliviar um ressentimento estúpido que não tem qualquer razão de existir e para evitar cometer uma estupidez de que possa vir a arrepender-me. A tristeza permanecerá, mas poderei sentir-me mais aliviado, sem ter uma carga tão grande a carregar. 

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