Poema "Outro Nascimento" de Forugh Farrokhzad
Ontem, para a tag poesias dos blogs do Sapo, decidi fazer uma tradução do poema "Another Birth" de Forugh Farrokhzad. Transcrevo aqui a mesma tradução, visto ser dos meus poemas favoritos!
Todo o meu ser é um canto negro
que te carregará
perpetuando-te
ao alvorecer de crescimentos e florescimentos eternos
neste canto eu suspirei tu suspiraste
eu enxertei-te à árvore à água ao fogo.
A vida é talvez
uma longa rua através da qual uma mulher a segurar
um cesto passa todos os dias
A vida é talvez
uma corda com a qual um homem se enforca num ramo
a vida é talvez uma criança a regressar a casa da escola.
A vida é talvez acender um cigarro
no repouso narcótico entre duas rondas de amor
ou o olhar ausente de um passageiro
que tira o seu chapéu a outro passageiro
com um sorriso insignificante e um "bom dia!.
A vida é talvez aquele momento íntimo
em que o meu olhar se destrói na pupila dos teus olhos
e é o sentimento
que porei na impressão da Lua
e na percepção da Noite.
Num quarto tão grande quanto a solidão
o meu coração
que é tão grande quanto o amor
olha para os simples pretextos da sua felicidade
para o bonito murchar das flores no vaso
para o rebento que plantaste no nosso jardim
e as canções de canários
que cantam o tamanho de uma janela.
Ah
este é o meu abrigo
este é o meu abrigo
o meu abrigo é
um céu que é levado ao cair de uma cortina
o meu abrigo é descer um vão de escadas desusadas
um reganhar de qualquer coisa entre putrefacção e nostalgia
o meu abrigo é um passeio triste no jardim das memórias
e morrer no pesar de uma voz que me diz
eu amo
as tuas mãos.
Vou plantar as minhas mãos no jardim
vou crescer eu sei eu sei eu sei
e as andorinhas porão ovos
no oco das minhas mãos manchadas de tinta.
Usarei
um par de cerejas como brincos
e porei pétalas de dália nas minhas unhas
existe um beco
em que os rapazes que estavam apaixonados por mim
ainda vagueiam com o mesmo cabelo desalinhado
pescoços magros e pernas ossudas
e pensam nos sorrisos inocentes de uma menina
que foi soprada pelo vento certa noite.
Existe um beco
que o meu coração roubou
das ruas da minha infância.
A jornada de uma forma ao longo da linha do tempo
a inseminar a linha do tempo com a forma
a forma consciente de uma imagem
a voltar de uma festa num espelho.
E é assim
que alguém morre
e que alguém vai vivendo.
Nenhum pescador haverá alguma vez de encontrar uma pérola num pequeno riacho
que desagua num pequeno lago.
Conheço um fadinha triste
que vive num oceano
e sempre tão suavemente
toca o seu coração numa flauta mágica
Um fadinha triste
que morre com um beijo a cada noite
e renasce com um beijo a cada madrugada.
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