Não me interessa o amor!

Não me interessa o amor, quebrar o que chamam de solidão. Não me interessa largar as rédeas do sentimento e deixar que as coisas se descontrolem, como um incêndio no mato.

olho para trás e penso em tudo quanto passei, sempre sozinho. Ninguém se propôs a navegar nessas ondas de mágoa e desespero ao meu lado, como podem esperar que aceite que naveguem o meu navio na calmaria? Recordo das poucas vezes em que tentei, quando nunca fui suficiente, nem fui sequer alguém que escolhessem. E hoje, se estou aqui e sou quem sou, com todos os defeitos e as poucas qualidades se mantiveram, se saio de casa sozinho para beber café ou ir dar umas caminhadas, sem procurar saber se mais alguém vai a esse mesmo café, devo-o a todos esses momentos. Ou à sua falta. E hoje, se escolho ir a um café sozinho, escolhendo mesmo um sítio onde a probabilidade de encontrar caras conhecidas seja o mais reduzida possível, devo-o a quem me transformou naquilo que sou; devo-o a todos esses alguém, a todos quanto diziam que estariam sempre ao meu lado, mas foram os primeiros a virar as costas; devo-o a mim próprio, por vergar e nunca quebrar, face à adversidade, à humilhação, aos ataques, à perseguição...

Não me interessa desviar-me de mim, do meu caminho, da minha torre de vigia, onde observo todo o mundo e ninguém me vê sequer.

As pessoas acham que a solidão me magoa. Não estou em solidão, acreditem! Não preciso de preencher um vazio que não existe. O meu vazio prende-se com o facto de estar aprisionado num prisão de carne e não poder ser parte do vento que me toca, nem das árvores e das suas folhas que acaricio ; a minha ansiedade vem do infinito de que não faço parte, por estar limitado ao meu plano físico; a minha angústia vem de não compartilhar o oceano ou o universo comigo mesmo, ao invés de estar preso num ponto específico de finitude.

Não preciso de um pseudo-sentimento para tornar-me pleno, para estar feliz ou para livrar-me desta ânsia que me consome desde que me conheço. Não tenho receio de caminhar ou viver sozinho. Não tenho receio de perder mais nada, nem mais ninguém. Não tenho nada que me enfraqueça. Não preciso do amor, preciso de ser pleno e fazer parte da imensidão e do infinito.

Comments

lua perdida said…
como te entendo...
hoje as tuas palavras poderiam ser as minhas!
nao sei se tenho a força ou a coragem necessaria para deixar alguém entrar em minha vida!
Bruno said…
Estas minhas palavras têm anos - não o texto em si, mas todo o sentimento nele descrito. Sinto que depois de passar os meus 34 anos sozinho, tento tido apenas dois namoros no fim da adolescência, mesmo depois de toda a porcaria que aguentei e que passei, depois de tudo o que sofri sozinho, não há "amor" que me valha. Ou, talvez, seja como diz aquela frase feita do Facebook: "depois de se andar tanto tempo com as pessoas erradas, quando chega a certa, a errada és tu!". E acho que é isso!

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