Este fado de não saber o que sinto

Oh, está bem.
Se não sou capaz de fazê-lo em Inglês, quem sabe em Português? Porque não? É a minha língua materna, a minha língua d'alma, de coração e de orgulho.
E, quanto ao blog em Inglês, o meu blog "principal", tenho pensado em "desligá-lo". Uma vez mais, penso em pôr-lhe um fim, em recomeçar, talvez, num outro "endereço". Mas não é isso que importa. Não é isso que me traz aqui, agora. Talvez os sentimentos. Nada, talvez.
Aqui estou, quase de manhã. Lá fora está frio. Os dias têm sido de chuva. O frio aproxima-se. Tu apareces, depois de uns dias em que me invadias o pensamento (será que te atraí?). E, talvez, nem mesmo tu sejas a razão disto. Isto começou há algum tempo, nem sei bem quando, uma incapacidade de escrever para lá de um ou outro texto de diário, uma carta.
Porquê?
Hoje, neste momento, sinto-me sem saber aquilo que estou a sentir. Na outra noite, bateu-me uma tristeza tão grande, tão fria, tão amarga.
Que se esconde por trás do meu sorriso? Das minhas gargalhadas fáceis? O meu doce coração, que tristezas guarda, pequeno cofre, cheio de tristeza e ressentimentos? Porque insisto? Porque insisto em manter-me só? Porque insisto em negar-me qualquer apego, qualquer sentimento doce por um outro homem? Porque insisto em negar-me a conhecer gente nova? Porque insisto em afastar-me, ao mínimo despontar de um sentimento? E, no fim, tenho sempre opção para tal.
Porque é que sinto? De que me serve sentir? Sentir para criar. "(...) destroying to create (...)" Isto é mais que uma opção. Tudo isto, é mais que sentir, amar, desejar, destruir, criar... tudo vem de algo mais, mesmo que pareça não fazer sentido, tudo parece vir e acontecer exactamente como e quando tem de acontecer. E, ainda assim, não faz grande sentido.

O que acontece a seguir? A que sabe a vida? A que sabem os dias de risos facéis, em que fomos felizes? A que sabe este vazio, em que a morte nos arrebata alguém? O que acontece quando partimos deste mundo?

E este sentimento voa. Enche o espaço da sala. Se é isto que sinto, se é a ti, saudade, que te sinto, não sei de que é que te sinto. E não sei que raio de fado é este, de sentir sem saber o quê, nem porquê, apenas para terminar na interminável vaidade de criar. Criar sem razão, nem noção. Criar para aliviar o peito, para alivar a alma que me desalma.
Caminhar à chuva. Caminhar pelas ruas da minha aldeia, sem esquecer o Fado da minha cidade, da minha Lisboa abençoada. Sentir, sem dó, nem piedade; olharei através da escuridão e o vulto de um corpo desenhar-se-á, caminhando na minha direcção. O sonho terminará e terá nascido um novo dia. Talvez consiga criar outra vez, livre de receios, de ansiedades, de preconceitos. Estarei despido das minhas percepções, perante mim mesmo, como se fora a primeira vez que me visse, como se fora, uma vez mais, aquela nossa segunda conversa, perante a tua tesão e a tua bebedeira, em que me descodificaste completamente, apesar disso mesmo.
E hoje, sobra-me a música. Sobra-me o desejo de cantar. Sobra-me o desejo de me perder pelos caminhos da mata ou pelas ruas da cidade. Sobra-me o desejo de dar-me e de entregar-me à noite.

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