Devaneios

Toca uma das incontáveis interpretações do "Silêncio" de Beethoven, existentes no YouTube. O vídeo intitula-se "(Lovely Version", mostrando várias imagens de gatos e de cães. Uma peça que, a meu ver, tem uma carga atmosférica muito pesada, muito obscura... A galeria de imagens, passa como memórias doces, que deixam uma saudade demasiado amarga.

Isto foi só um devaneio.

A vida tem coisas muito amargas.
Há alturas em que eu preciso de um certo isolamento, de um certo afastamento.
Por vezes, é como se a depressão me comesse a alma. Sinto uma amargura, uma tristeza tão profunda. E só quero estar sozinho com os meus pensamentos, com os meus sentimentos. E só quero sentir o tempo preenchido comigo mesmo.

Heremita.

Eu não... Não sei, não me sinto bem, mentalmente. Eu sinto um sufoco enorme (os meus dedos deslizam sobre o teclado, a tentar acompanhar o ritmo da música. Desta vez, "(Stille)", com um luar cortado pelos ramos de uma árvore )
Eu preciso de respirar espiritualmente. E não consigo.
Sinto-me a caminhar por entre uma cadeia de tragédias. Um circo de horrores.

Eu quero fugir daqui.
Eu quero caminhar ao luar. Passar por entre as árvores da mata, correndo e rindo. Correr loucamente numa praia. Sorrir por entre as sepulturas, ajeitar as flores, acender as velas apagadas. Falar com os seres da noite.

Eu quero sair daqui. Estou farto disto.

Será que enlouqueci?
Estarei completamente perdido?
Divago, por entre o que sonho, por entre o que vivo, por entre o que evito.
Divago. E divagando, vou passando nesta vida.
Caio no lodo e ninguém se apercebe. Estou a afogar-me, a matar-me aos poucos. Quanto mais esbracejo, mais me prende o lodo, com mais força me arrasta para o fundo. Do lado da piscina, alguém sorri e acena. Bebem cocktails, fumam cigarros e não se apercebem de que me afogo. Ninguém o espera.

Ele morreu. Hoje, aparece-me em sonhos. "O que fazes aqui? ", pergunto-lhe. Mesmo em sonhos, tenho consciência de que ele não está presente. Não recordo mais nada. Nuno.

Ele está mal. A relação está mal. Eu quero prendê-lo entre os meus braços. Eu quero apertá-lo com tanta força. Eu quero tirar-lhe a dor - sinto por ti uma coisa estranha. E tenho medo de perdê-lo. Não que seja meu, mas há muitas maneiras de perder alguém.
Eu ficaria a noite toda contigo. Eu dava-te o apoio que pudesse ou soubesse.

Ela quer companhia. Eu quero estar sozinho. A minha amiga está chateada e com razão. Podia dar uma palavra. Mas eu prefiro afastar-me silenciosamente.

As horas passam-se e as notas de piano soam a cristal. O luar atravessa as vidraças imaginárias, enquanto o gelo da morte assombra a cidade.
Tenho tanta coisa a fazer. Tenho tanto que fazer e não faço nada. Estupidez.

Corre. Corre daqui.
Pára com estes pensamentos.
Pára com o gelo.
Pára com a existência atormentada.
Tu és muito mais do que isto.
Tu és qualquer coisa mais. Qualquer coisa superior. Tu és cheio de tudo e de nada e de "e ses?..." Tu és intenso. Tu és a luz de uma sala e o silêncio da outra. Tu és o 8 e o 80. Tu és verdade e és mentira.
(Olho-me a um espelho imaginário)

Sim, devo estar mesmo a bater bué mal!

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