Down Lo: a fuga de lugares comuns para outros

Um destes dias, escrevi um estado no Facebook em que mencionava uma ideia de escrever uma espécie de retrospectiva do ano passado e sobre o carácter de algumas pessoas. Não creio que seja hoje, nem agora. Talvez por ser demasiado tarde (demasiado cedo para algumas pessoas) ou por sentir que, sem escrever alguma coisa num papel, sem organizar tópicos e ideias (obrigado às aulas que tenho frequentado, que começou a surtir algum efeito: preparação, rascunho e texto em si). Contudo, sinto que tenho que escrever sobre um tópico que agradará a alguns e poderá deixar outros desconfortáveis. Ponderou escrever sobre sexo homossexual, obviamente, sobre decisões tomadas, sobre escolhas, sobre recusas.
De há uns tempos para cá, abandonei umas práticas de down lo, para imiscuir-me noutras. Deixei de correr lugares e amantes estranhos, para manter uma prática corrente de amantes conhecidos, de dar a conhecer realidades diferentes a quem as desconhece, de manter segredos e "rotinas". Dentre alguns, cortei com vários por variados motivos: violência, drogas, imposição de vontades enquanto que as minhas próprias vontades e os meus desejos nada contam; cortei com quem não se mexe por mim, pelos meus desejos, acreditando que eu tenha uma qualquer obrigação de aceder aos seus; cortei com quem, por muito me desse alguma tesão, não faz por que me sinta bem ou seguro na sua presença. De há uns tempos para cá, estou presente - e se chegaram aqui nesta leitura, mantém-se o medo tópico: sexo - quando o desejo e tesão também me tocam.
Há pessoas que nos são indiferentes, até que este mesmo tópico surja entre nós. Outras há, que a curiosidade toca e querem mais. E, neste mais querer, estas pessoas têm, não sei porquê, um não sei quê especial, que nos faz querer dar-lhes tudo, mesmo a nossa alma, ao mesmo tempo que a protegemos delas mesmas, de nós e do mundo. Há amantes que se tornam especiais, digamos assim, não porque comecemos a nutrir um sentimento especial por eles, mas porque sabemos que querem mais. Querem sempre mais. E esse querer mais, é perigoso: para quem nunca sentiu atracção por alguém do mesmo sexo, que quer mais, que procura mais, que, após uma confusão inicial, sempre te procura - e o teu instinto diz-te que vai procurar-te sempre - e perde o receio, começa aí o receio próprio: sentimentos. Como já referi, não que esteja a ganhar qualquer sentimento, mas sinto que, do outro lado, o desejo pode estar a tornar-se sentimento pelo próprio desejo, pelo desconhecido, pela vontade. Começa aqui o meu receio, porque não sei lidar com os meus próprios sentimentos, porque não sei como colocar a verdade à disposição, porque não quero abrir mão dos meus segredos. Porque quero manter a pessoa segura!
Troquei os lugares comuns e as rotinas perigosas, por pessoas próximas e, de certo modo, não menos perigosas. Na minha verdade, começo a frequentar os segredos dos demais e começo a ter medo. 
Quero fugir.

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