Divagações
Um. Dois. Todos caem. Todos erram. Ou serei eu que erro as escolhas?
Uns aparecem. Outros desaparecem. A alma voa. A alma vai para muito longe e fecha-se num casulo, que não permite toques, que não permite a perda do controlo, que não permite as mínimas mostras de afecto. Uns aparecem. Outros desaparecem. E eu não sei o que diga. E eu não sei o que sinta.
Aqui estou. Uma outra noite. Uma outra noite sem dormir. Cinco da manhã. Ouço Amália. Ouço outros. Um cigarro. E mais outro. Outro ainda. Que é que vem aí? Que é que se aproxima?
Uma hora passa. E mais outra. Sombras curvadas sobre si mesmas caminham pelas ruas. São prenúncios de problemas. São prenúncios de que algo correrá mal ou de que tentarão enganar alguém. Alguns, talvez, roubarão mesmo. E a merda é contínua. É um eterno círculo vicioso, a menos que se acenda a luz e se dissipem as sombras, relegando-as para a escuridão e para a distância a que pertencem.
Um. Dois. Três. Todos caem. Todos erram. Todos ficam pelo caminho. Nada. Ninguém. Não existe eternidade. A única eternidade, é a do céu. O imenso negro. A vastidão do cosmos, onde nascem estrelas, onde nascem planetas, onde se criam constelações e galáxias. A imensa e vasta escuridão que pare tudo isto e que vê tudo a nascer e a morrer. Um. Dois. Três. Milhões e biliões. Nascem. Morrem. Criam-se. Destroem-se.
Tu. E tu também. Vocês. Quem serão? Porque terão cruzado o meu caminho? Porque terão despertado aquele sentimento em mim, desaparecido na vastidão, reaparecendo, desaparecendo outra vez?
E, enquanto os carros passam na noite, ainda que eu possa viajar num deles, nada tem significado. Estarei numa daquelas estrelas lá no alto? Estarei no meio daquelas árvores lá ao longe? Aguardarei as minhas presas por entre elas, na escuridão? Caminharei outras ruas, que não as da minha cidade? Cantarei numa dessas casa nocturnas, enquanto uns se embebedam com vinho barato, enchendo os espaços com fumo de cigarro, onde um homem rico fuma um charuto, procurando uma nova e estranha aventura?
Porque é que descem os olhares sobre mim?
Olho-os: a alguns, com desdém ou indifirença; a outros, com uma estranha curiosidade - como podem as pessoas causar-me ainda alguma curiosidade?
Tu. E tu. E eu, também. Que somos? Quem somos, neste mundo? E que é que importa, afinal?
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